RELIGIÕES INDÍGENAS

O conhecimento do fenômeno religioso nas tradições  indígenas sugere 
um repensar sobre o nosso conceito acerca desses povos e sua milenar 
sabedoria e cultura. Desde a colonização, os povos 
indígenas têm sido explorados e excluídos ao longo da 
história do Brasil.  
O que podemos aprender com a sua rica cultura e 
tradição? Como podemos contribuir para que os índios 
se integrem na sociedade sem perder a sua 
identidade? Muitas vezes a mídia apresenta-os como 
ingênuos e incapazes; povos condenados à 
desintegração social. Porém, apesar do preconceito,
discriminação e exclusão de que são vítimas, existem 
comunidades indígenas que têm mostrado o seu valor e 
habilidade para conviver na sociedade de hoje, buscando resgatar e preservar 
a sua história e cultura, sem perder o seu referencial. Um exemplo disso são as 
várias comunidades indígenas do Xingu, no Mato Grosso. “O Parque Indígena 
do Xingu engloba, em sua porção sul, a área cultural conhecida como Alto 
Xingu, integrada pelos Aweti, Kalapalo, Kamaiurá, Kuikuro, Matipu, Mehinako, 
Nahukuá, Trumai, Wauja e Yawalapiti. A despeito de sua variedade lingüística, 
esses povos caracterizam-se por uma grande similaridade no seu modo de 
vida e visão de mundo. Estão ainda articulados numa rede de trocas 
especializadas, casamentos e rituais inter-aldeias. Entretanto, cada um desses 
grupos faz questão de cultivar sua identidade étnica e, se o intercâmbio 
cerimonial e econômico celebra a sociedade alto-xinguana, promove também a 
celebração de suas diferenças”. 
Os índios querem continuar sendo índios e têm esse direito assegurado 
na Constituição do nosso país. “São reconhecidos aos índios sua organização 
social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as 
terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, 
proteger e fazer respeitar todos os seus bens.” (Constituição Federal – Art. 
231).  
Conhecer as expressões religiosas dos povos indígenas permite 
compreender melhor a sua cultura e superar o preconceito que muitos ainda 
têm em relação ao índio e seu modo de vida.  
As influências da cultura do branco e das religiões, principalmente de 
matriz cristã, impregnaram suas crenças e costumes, na maioria das vezes de 
forma negativa, levando muitos índios a perderem sua identidade. Cabe hoje a 
todos os cidadãos conscientes defender os direitos  de liberdade e dignidade 
dos povos indígenas do Brasil. 
O índio acima de tudo como ser humano deve ser respeitado. Sua 
cultura precisa ser preservada, conhecida, resgatada e valorizada para que ele 
tenha condições dignas de vida na sociedade contemporânea.


  
SOCIEDADES SOLIDÁRIAS -  As sociedades indígenas são 
organizadas a partir dos princípios de solidariedade, partilha e generosidade 
entre os membros da tribo. Essas atitudes éticas abrangem a todos e em 
muitos casos até mesmo os inimigos. Com certeza, esse é um exemplo a ser 4 
aprendido e seguido pela nossa sociedade marcada pelo individualismo, 
ganância, competição e consumismo desenfreado. 



OS INDÍGENAS NOS PRIMEIROS TEMPOS DA COLONIZAÇÃO DO
BRASIL E NOS DIAS DE HOJE - Nos primeiros tempos da colonização do 
Brasil, os povos indígenas eram vistos a partir do  olhar dos dominadores de 
então, como “gente sem fé, sem lei, sem rei”. Assim, projetava-se a sociedade 
indígena em termos daquilo que lhe faltava, na opinião dos europeus. Os 
europeus queriam a todo custo impor-lhes a sua cultura e religião.  
Com o decorrer do tempo percebeu-se que o 
índio era resistente, ele tinha convicção quanto às
suas próprias crenças e mitos. Assim, o catolicismo
daqueles tempos encontrou dificuldades em 
converter os índios que, segundo  o pensamento 
vigente, não tinham  Deus, nem hierarquia, nem 
disciplinamento litúrgico.  
A opressão encontrou seus caminhos e a 
dominação se deu através da introdução da cachaça, 
pois o entorpecimento e dependência favoreciam a 
conquista de seus corpos e almas. Através de 
doenças, contaminando previamente roupas e 
cobertores que seriam presenteados aos índios, esses “selvagens teimosos” 
eram, então, dizimados.  
Também através de castigos, surras, acorrentamento  e palmatória, 
juntamente com a exploração de mão de obra, desvirtuamento de seus 
costumes, e é claro, através da evangelização, toda a cultura religiosa nativa 
era desvalorizada e substituída pelo catolicismo de então. 
Os índios ou brasilíndios eram vistos como o “outro diferente”, que 
representava ameaça, por isso, na visão dos colonizadores deviam ser 
convertidos, catequizados e dominados. Pelo fato de se recusarem a aceitar as 
condições impostas foram perseguidos, escravizados  e muitos foram mortos 
com crueldade. Nações inteiras foram dizimadas, sua cultura, tradição e 
sabedoria perdidas para sempre. 
Toda a riqueza cultural e sabedoria do povo indígena não foi respeitada 
nem compreendida pelos invasores portugueses que diziam ser o índio apenas 
um animal com corpo humano, mais ou menos como a mulher e o negro 
também foram vistos.  
Ainda  hoje não é raro haver comentários pejorativos direcionados a 
momentos específicos de ritualização dos índios e negros. Provavelmente você 
irá se lembrar de expressões como:  Isso é coisa do diabo! Deus não gosta 
disso! Toda essa gente vai para o inferno! São pagãos que precisam ser 
convertidos à fé cristã!...  
Esta sempre foi uma forma de exercer a superioridade e a posição de 
dono da verdade a custo de denegrir e inferiorizar o “outro”, atitude que ainda 
hoje se repete em nossa sociedade, em relação aos índios de hoje e às 
minorias excluídas. 


UMA DAS TEORIAS DA ORIGEM DOS POVOS INDÍGENAS -  Após 
500 anos de dominação, eles ainda são aproximadamente 215 nações com 
170 línguas diferentes, com culturas diversas entre si, segundo pesquisadores.  5 
Entre diversas teorias, a mais aceita é a de que seus ancestrais 
chegaram às Américas pelo estreito de Bering, originários de regiões distintas 
da Ásia.  
Essa saga, calcula-se agora, começou há 27.500 anos, 15.500 anos 
antes do que era aceito. A conclusão é que ainda há muito a descobrir, mas 
não há mais dúvidas de que os índios têm um passado e uma cultura tão 
grandiosos como de qualquer outra etnia.  
A origem histórica das tradições religiosas indígenas como a de todas as 
religiões nativas perde-se nos tempos da história da humanidade. Todas 
possuem seus mitos fundantes transmitidos oralmente e revividos por meio dos 
ritos. É através dos mitos que essas culturas explicam o mundo, o 
desconhecido, a origem do seu povo e a sua organização social e religiosa.


ESTRUTURA DAS RELIGIÕES INDÍGENAS - A estrutura das religiões 
indígenas é sólida e muito bem elaborada, permitindo a equilibração do homem 
com o meio intra e extra psíquico. A harmonia deste com a Mãe Terra é 
condição básica para sua sobrevivência e é, portanto, elemento inseparável de 
seus ritos e encontro com a transcendência. 


RELIGIÕES MARCADAS PELA PRATICIDADE - As religiões indígenas 
caracterizam-se pela praticidade, tudo gira em torno da experiência do sagrado 
e não numa fundamentação teórica. O cotidiano da vida está impregnado de 
religiosidade. A vida na aldeia é vivida de modo contextualizado, a religião é 
parte integrante da vida. 


RELIGIÕES DIFERENTES ENTRE SI - As tradições religiosas indígenas 
são diferentes entre si, há uma diversidade de povos e culturas que se 
distinguem no tipo biológico, línguas, costumes, ritos, organização social, etc. 
Suas religiões são profundamente marcadas por rituais nos quais os mitos são 
revividos com intensidade de modo que em algumas comunidades os 
participantes no ato ritualístico sentem-se parte da divindade. As práticas 
religiosos caracterizam-se de ritos de defumação, entoação de cantos, uso de 
instrumentos musicais, incorporação, transe e uso de remédios retirados das 
plantas e ervas. 


A IDÉIA E A REPRESENTAÇÃO DO TRANSCENDENTE -  O 
Transcendente (Deus) em algumas tribos é compreendido como um ser 
natural, bondoso, que gosta de todos e que está em paz com todos os seres. 
Algumas nações acreditam no Transcendente como um Ser Superior e em 
seres menores, seus auxiliares.  
Há também religiões que acreditam num mundo espiritual povoado de 
divindades (espíritos), sem uma hierarquia definida entre eles. São os espíritos 
dos ancestrais, os espíritos das florestas, das ervas medicinais, entre outros. 
Os espíritos maus devem ser apaziguados e os bons devem ser 
convencidos a ajudá-los. Os nomes dados à divindade superior e aos espíritos 
variam de uma nação para outra: Maíra, Itukoóviti (aquele que criou todas as 
coisas), Nhyanderú, Nhyanderuvusú, Nhyanderupapá, etc.  
Entretanto, a maioria das tribos dá mais atenção às mitologias de heróis 
míticos, caracterizados como heróis civilizadores,  que  ensinaram técnicas, 
costumes, ritos e as regras sociais aos membros da tribo.  6 
Em algumas tribos o sol ou a névoa que cobre as florestas à tardinha ou 
de manhã é considerado como o reflexo e a representação ou manifestação do 
Ser Supremo ou das divindades. Contudo, cada nação  concebe o 
Transcendente e o representa de forma diversa.


SABEDORIA DOS ANTEPASSADOS - A sabedoria dos antepassados 
é preservada através da oralidade. Honrar os ancestrais constitui-se o centro 
da ética religiosa indígena.  
  
SACERDOTES-MÉDICOS -  Os 
mediadores entre os espíritos e membros da 
comunidade são os xamãs, também chamados 
pajés, os quais exercem a função de sacerdotes 
e médicos. Para ser Pajé ou Xamã, a pessoa 
precisa passar por uma experiência psicológica 
transformadora que a leve inteiramente para 
dentro de si mesma. O inconsciente inteiro se 
abre e o Pajé mergulha nele.  
Certas vezes, esse homem - ou mulher - 
dotado de autoridade religiosa, ingere 
substâncias alucinógenas, com o intuito de, em 
rituais, atingir estados alterados de consciência, 
entrando assim em contato com entidades do 
mundo espiritual. Neste caso, os espíritos 
malévolos serão controlados e combatidos e os 
bons serão convencidos a ajudar. 


A IMPORTÂNCIA DO  RITO -O rito fundamenta toda a realidade, define 
a organização da vida social e é fonte de memória e conhecimento. Há rituais 
para celebrar o fim das estações da chuva ou seca, outros para comemorar a 
chegada das colheitas; há rituais de casamento e vitórias em guerras com 
outras tribos.  
Revestem-se de grande importância para as famílias  os rituais de 
iniciação ou passagem para a vida adulta dos jovens e também o nascimento 
de crianças. Os rituais estão ligados aos mitos. O  ritual e o mito atualizam o 
passado e ajudam a modificar e compreender o presente. 


TEXTO SAGRADO - O texto sagrado é transmitido na forma oral. São 
histórias míticas que os sábios anciões contam oralmente para toda a tribo, 
preservando assim a sabedoria e a tradição.  
Os mitos falam geralmente da origem e transformação do universo, da 
vida, das outras nações indígenas, dos fenômenos de ordem espiritual ou 
sobrenatural que acontecem com as pessoas na aldeia. Contam como os 
homens aprenderam a cultivar a terra, a fabricar os instrumentos, qual a 
posição de sua sociedade tribal em relação às outras, quem instituiu as suas 
regras sociais e ritos religiosos, o que acontece com as pessoas depois da 
morte, etc. Atualmente, porém, algumas comunidades  indígenas  utilizam a 
escrita. 7 


VIDA ALÉM MORTE - De modo geral, nas diversas nações indígenas, 
acredita-se que cada pessoa possui um espírito imortal. A idéia de espírito 
difere de um grupo para outro. Há comunidades como  os Krahó, ramo dos 
Timbíra, que acreditam que não somente os seres humanos possuem espírito, 
mas todos os seres sejam animais, vegetais ou minerais.  
Alguns dividem a alma em duas forças, uma das quais permanece na 
terra em situação de perigo para os seres vivos e outra parte vai para o 
paraíso.  
Os Kaingáng acreditam que o indivíduo, após a morte, torna-se outra 
vez jovem, vivendo mais uma vida em outro plano existencial. Morre 
novamente, transformando-se num pequeno inseto, formiga preta ou mosquito. 
Os Kayová acreditam que o espírito ou alma tem uma parte sublime, de 
origem celeste e outra parte menos boa da alma que se desenvolve durante a 
existência do indivíduo. Para essa tribo, a reencarnação só é possível para as 
almas das crianças que morreram.  
De modo geral, predomina a crença de que a 
morte é o corte abrupto da vida e início de outra vida 
repleta de alegrias. 


SISTEMA DE EDUCAÇÃO - Não há uma 
sistematização de educação semelhante a dos 
povos das cidades. A educação acontece também 
de uma forma sistematizada, mas dentro de 
períodos, de ciclos, marcados por rituais e 
cerimônias. As crianças são cercadas de carinho, 
cuidados e proteção, não só dos pais, mas de toda 
a tribo. São filhos de todos.


SISTEMA SOCIAL INTEGRADO À NATUREZA - Natureza e sociedade 
são partes de um sistema social único. O homem é parte da natureza como a 
natureza é parte do homem. 
  
RELAÇÃO COM A TERRA, UMA QUESTÃO RELIGIOSA - A terra é de 
todos, é a propriedade coletiva. A relação com a terra passa pela questão 
religiosa. A terra é o espaço de vida, lugar para se viver bem, ela é chamada 
de “Mãe Terra”. O índio sente-se acolhido pela Mãe  Terra. Ao contrário do 
homem capitalista, que vê a terra como meio de produção e exploração, 
visando apenas o lucro pessoal e egoístico, o índio estabelece um 
relacionamento de afeto com a Terra, vendo nela uma mãe, que o acolhe 
generosamente. Assim, a relação com a Terra passa pela questão religiosa. 
Deus, “o Grande Espírito”, “o Grande Pai” ou “o Grande Avô” ordena e orienta 
para que se trate bem a natureza por que a vida de  todos na comunidade 
depende dela.  


VISÃO ORGÂNICA OU SISTÊMICA DE MUNDO - Predomina entre os 
indígenas uma visão orgânica ou sistêmica de mundo. Tudo está em harmonia. 
Os elementos da natureza, os astros, todos os seres foram colocados e 
organizados harmoniosamente. Originalmente o índio vivia de forma integrada 
à natureza, ele tinha consciência de sua relação de interdependência com os 8 
elementos naturais. Percebia o equilíbrio e a harmonia no cosmo e essa paz 
devia ser vivida na aldeia ou comunidade, por meio da partilha e solidariedade.


ORGANIZAÇÃO DA VIDA SOCIAL - O modo de vida numa aldeia 
indígena é bastante diferente da  vida dos povos que vivem nas vilas e grandes 
cidades. A aldeia é como se fosse uma grande família, onde os homens e as 
mulheres têm funções definidas. Todos cuidam das crianças, protegendo-as e 
ensinando os costumes da tribo. Os alimentos vindos da caça, da pesca, da 
coleta e da agricultura são repartidos entre todos. Os direitos são iguais para 
todos, como casa, alimento, educação e medicina de  ervas dos Pajés. Os 
idosos não são desprezados e nem abandonados, mas tratados com carinho e 
respeito. 


SONHO, CRENÇA OU UMA POSSIBILIDADE? “TERRA SEM MALES” -
Algumas nações indígenas acreditam na “Terra sem males”, onde não haverá 
maldade, injustiça, guerra e doença. Onde todos os seres viverão felizes, em 
plena harmonia e paz.

VER O ÍNDIO COMO ELE É... O professor precisa conhecer a realidade 
indígena para não apresentar aos alunos uma visão romântica e irreal sobre os 
povos indígenas, como se fossem seres perfeitos ou  o inverso disso, como 
seres selvagens e maus. Os índios, como todos os seres humanos, têm suas 
limitações, dificuldades e conflitos na convivência grupal.  
Deve-se apresentar o índio como ele realmente é, enfatizando os aspectos 
positivos que existem em seu modo de vida, ética e  organização social 
baseada na maioria das vezes na solidariedade e partilha.   
Os povos indígenas ainda hoje sofrem discriminação  e injustiças. Muitos 
são expulsos de suas terras. As florestas são destruídas pelos madeireiros e 
exploradores de minas, as águas são poluídas e os animais exterminados. Por 
causa disso, muitos índios perderam o rumo de suas vidas, muitos vivem em 
condições desumanas, em reservas ou nos subúrbios das cidades.  
Mas, também existem algumas tribos, como os Yanomâmis no Alto Xingu, 
Mato Grosso, que já encontraram a forma de sobreviver ao contato com a 
civilização moderna sem perder o seu referencial cultural. Segundo 
pesquisadores, há ainda algumas poucas tribos no Brasil vivendo nas selvas 
da Amazônia que não tiveram contato com o homem civilizado.


A IDÉIA DO DEUS TUPÃ - “Muita gente acredita ser Tupã o principal deus 
das crenças indígenas. (Mas a verdade é outra). Tupã é um ser sobrenatural 
em que somente os índios que falam língua do tronco Tupi acreditam. Os 
demais indígenas não conheciam Tupã, pelo menos antes do contato com os 
homens civilizados. 
Mesmo para os índios do tronco Tupi, o ser que denominam Tupã não é 
considerado de modo nenhum o principal dos entes sobrenaturais. Para eles, 
Tupã é como um (espírito) que controla o raio e o trovão, podendo, por isso, 
provocar morte e destruição. Foram os primeiros missionários que, ao 
ensinarem a doutrina cristã aos índios, na língua destes, procuraram expressar 
o conceito que os cristãos faziam de Deus com o termo Tupã. O termo foi  mal 
escolhido, uma vez que são completamente discordantes a idéia que os 
cristãos fazem de Deus e a idéia que os índios fazem de Tupã. Mas o erro dos 9 
missionários perdurou e até hoje muitos afirmam que Tupã é a principal 
divindade indígena.” (Julio Cezar Melatti – Índios do Brasil – Ed. Hucitec).


VOCÊ SABIA QUE... O jogo da peteca é de origem indígena? Os Mbyá 
chamam a peteca de Mangá? Que esse é o jogo dos deuses? E que eles o 
jogam sem parar, durante todo o verão? É que, durante a época das chuvas 
quando se escutam os trovões, são os deuses batendo na peteca. Os 
relâmpagos são os rastros da peteca, indo de um lado para outro... 
A palavra “peteca” é de origem tupi? Ela significa  “tapear”, “esbofetear”, 
“golpear com as mãos”. 


COMO FAZER UMA PETECA -  Use palha seca de milho, mas também 
pode ser feita com folhas verdes de milho. Dobre-as fazendo um quadrado. 
Faça isso com vários pedaços de palha ou folhas sobrepondo-as. Estas 
camadas devem ficar bem firmes, pois formam a base da peteca. 
Depois, amarre essa base com algumas palhas de milho desfiadas, bem 
firmemente. Ou, no lugar das palhas desfiadas, coloque algumas penas de asa 
de galinha ou outra ave, isso dá equilíbrio à peteca. Assim ela está pronta para 
o jogo.


COMO JOGAR PETECA - É um jogo típico dos índios Mbyá. Ele é coletivo 
e exige reflexos rápidos, agilidade e habilidade. Para jogar, se faz um círculo 
com todos os participantes. Não tem número certo. Todos podem jogar. 
Existem dois jeitos para se fazer isso: 
1 – Um jogador bate na peteca com a palma da mão, de baixo para cima, 
fazendo com que ela suba e faça um arco no ar até o outro lado do círculo. 
Então, a peteca será rebatida por outra pessoa, que faz os mesmos 
movimentos, passando-a adiante. Tudo isso “sem deixar a peteca cair”. Você já 
ouviu isso antes, não é? 
2 – Na outra forma de jogar, uma pessoa fica no centro do círculo. Ela 
dá a primeira batida na peteca, que sempre tem que  ser devolvida para ela, 
que passará adiante.  
Nas duas formas de jogar, quem deixar a peteca cair, sai  do jogo. Este 
segue até que fique apenas uma pessoa. 


ALGUNS RITOS DAS TRADIÇÕES INDÍGENAS -  Praticamente em 
todas as culturas e tradições religiosas, o comportamento humano é permeado 
de rituais. Os rituais são marcos que pontuam momentos importantes na vida 
das pessoas. Os rituais indígenas não estão separados da vida cotidiana. Há 
diferentes elementos simbólicos, como danças, cantos, pintura no corpo, 
adornos, vestimentas de palha e de  materiais diversos extraídos da natureza. 
Os rituais fundamentam toda a realidade e organização da vida social na tribo. 
Entre quase todas as comunidades existem os ritos de passagem, que 
marcam a passagem de um grupo ou indivíduo de uma situação para outra. 
Esses ritos estão ligados à gestação e ao nascimento, à iniciação na vida 
adulta, ao casamento, à morte e outras situações. 
As festas acontecem na época de abundância de colheita do milho ou da 
caça e pesca. Há também festas relacionadas aos rituais de iniciação e aos 
heróis fundadores do povo. Nestas festas, as variadas formas de pintura do 
corpo, os enfeites com penas, os cantos e as danças têm grande importância. 10 
As cores mais usadas são o vermelho, o preto e o branco, cujas tintas são 
extraídas do urucum, jenipapo, carvão, barro e calcário.  
Conforme a tradição de cada tribo, a música é executada pelos homens 
e mulheres. Os instrumentos são construídos de madeira, casca de frutas, 
bambu, entre outros materiais disponíveis para isso. 
“Entre os índios da região do Xingu, a morte de um 
chefe  marca o início de um ritual funerário que inclui 
danças e lutas. Essa cerimônia é conhecida como 
KUARUP, palavra que significa "tronco de árvore". Em 
torno de um tronco de árvore acontecem as danças, que 
vão do anoitecer ao amanhecer do dia seguinte. Os 
índios acreditam que a alma do morto se liberta do tronco 
pela manhã. Nesse momento, o principal da cerimônia, 
eles rolam o tronco para dentro do rio, revivendo a lenda 
da criação do mundo”.


RITO DO NASCIMENTO - Os Tupinambá costumavam celebrar o rito do 
nascimento de uma criança com uma grande festa. O pai cortava com seus 
dentes o cordão umbilical, se fosse menino. Se fosse menina, era a mãe. 
Banhava-se a criança num rio. Em casa era colocada numa rede, colocando-se 
um arco e flecha, para o menino. Unhas de gavião ou garras de onça 
enfeitavam a rede para que o menino, quando adulto, se tornasse um valente 
guerreiro. A menina recebia objetos como uma cabaça, as jarreteiras para as 
pernas, braceletes de algodão e um colar de dentes  de capivara para que 
crescesse com dentes fortes para bem mastigar a mandioca no preparo da 
bebida chamada cauim. 


RITO PARA TORNAR-SE ADULTO -  Entre os índios Apinayé, a 
transformação dos meninos em adultos guerreiros se dá em duas etapas, no 
decorrer de um ano. Trata-se de um rito de passagem.  
Na primeira etapa, os meninos por volta de quinze anos de idade são 
separados dos demais por meio de uma cerimônia. Passam então a ser 
chamados de  pebkaáb, isto é, “semelhantes a guerreiros”. Daí por diante, 
durante alguns meses, embora durmam nas casas maternas, os jovens em 
iniciação passam praticamente os dias separados da aldeia num acampamento 
próprio, com um local de banho só para eles, um pátio deles a leste da aldeia, 
um caminho circular em torno da aldeia pelo qual vêm buscar alimento em suas 
casas maternas.  
Recebem instruções todos os dias de dois índios experientes. Vem à 
aldeia somente para dançar a noite e dormir. Durante esse período têm suas 
orelhas e lábio inferior perfurados para uso de batoques.  
Depois de algum tempo, são trazidos à vida da aldeia numa cerimônia 
constituída de ritos de incorporação e então os jovens são chamados de pemb, 
isto é, “guerreiros”. Nessa segunda etapa ficam numa reclusão rigorosa, em um 
pequeno quarto totalmente fechado dentro de suas casas maternas.  
Nessa fase, seus instrutores lhes aconselham sobre  como escolher e 
como tratar a esposa, como tratar seus colegas, como confeccionar seus 
enfeites e a importância em obedecer a seus chefes.11 


RITOS DE CASAMENTO – XAVANTE - Entre os Xavante são os pais 
que tratam da escolha dos cônjuges para os seus filhos. Assim que um grupo 
de rapazes termina a cerimônia de iniciação, realiza-se uma cerimônia coletiva 
de casamento. As mães trazem suas filhas, ainda meninas, e as deitam junto a 
seus noivos, que cobrem as faces com as mãos e estão de costas para elas. 
As meninas ficam apenas um momento nessa posição, sendo retiradas logo 
em seguida. Depois são servidos bolos de milho aos convidados, com o milho 
fornecido pelas casas dos noivos e noivas. O rapaz deve esperar que a noiva 
cresça para morar com ela. Ao nascer o primeiro filho, passa a morar 
definitivamente na casa da família da esposa. 


RITO DE CASAMENTO – DENI - Entre o povo Deni, tribo que vive na 
Amazônia, o casamento acontece entre primos cruzados, quando possível. O 
casamento é ajeitado pelas mulheres e dois homens mais velhos da tribo, 
enquanto que os outros vão para a caça. A rede da moça é desatada e levada 
ao lado da rede do rapaz. Quando os homens voltam, é dado o  aviso de que 
os dois estão casados. Logo a mãe da moça traz brasa para ela fazer fogo. Ai 
tem festa, comida, cantos e os dois podem morar juntos. 


RITO FUNERÁRIO – KAINGÁNG - Os Kaingáng no Paraná (Palmas) 
realizam uma cerimônia quando alguém morre, que se  constitui um rito de 
passagem. O pajé recita uma fórmula tradicional ao  som do maracá. Três 
homens levam o cadáver para o cemitério. Toda vez que põem o cadáver no 
chão para descansar, fazem um sinal numa árvore próxima, até que chegam 
ao cemitério, onde fazem também o mesmo sinal. Eles acreditam que o morto 
vive mais uma vida no além-túmulo, depois do que, morre outra vez, 
transformando-se num mosquito ou formiga. O espírito do morto deve ser 
afugentado para não oferecer perigo à comunidade, pois, pode trazer doenças. 
Nos meses seguintes realiza-se um rito com danças,  cantos e bebidas para 
que o morto vá embora.
Indígenas Kaingáng 12 


ALGUNS MITOS INDÍGENAS 

MITO DA CHEGADA DO FOGO - Há muito tempo, um homem Deni foi 
caçar onça, que era o único bicho mau. De repente, gritou o passarinho bubu 
ao Deni: 
- Tem fogo aí! 
O índio assustado, viu em frente uma árvore enorme em chamas. Ao se 
aproximar, sentiu muito calor. Então pegou uma vara, encostou no fogo e a 
vara queimou. Rapidamente, levou a brasa para casa e fez fogo. 
Os outros índios da aldeia se admiraram e pediram fogo para ele, mas o 
Deni não concedeu uma brasa sequer. Mandou que eles mesmos buscassem 
mais fogo na árvore no meio da floresta. Os índios  foram ao lugar indicado, 
mas ali não encontraram mais nada. 
Então o índio, que descobriu a brasa, decidiu repartir o fogo. Por isso, os 
índios Deni não deixam apagar o fogo até hoje. 
Os Deni fazem parte dos povos indígenas que ainda sobreviveram na 
Amazônia. Este povo é formado por vários grupos espalhados às margens dos 
rios Xeruã e Cuniuá, ambos afluentes do Rio Solimões.  


MITO DA ORIGEM DOS ÍNDIOS - No começo só havia Mavutsinim. 
Ninguém vivia com ele. Não tinha mulher. Não tinha filho, nenhum parente ele 
tinha. Era só. 
Um dia ele  fez uma concha virar mulher e casou com ela. 
Quando o filho nasceu, Mavutsinim perguntou para a esposa: 
 - É homem ou mulher? 
 - É homem. 
- Vou levar ele comigo. E foi embora. 
A mãe do menino chorou e voltou para a aldeia dela. A lagoa virou 
concha outra vez. 
Nós – dizem os índios – somos netos do filho de Mavutsinim.  
(Villas Boas, Orlando e Villas Boas, Cláudio, Xingu, Os índios, seus netos, R. 
de Janeiro, Zahar, 1970, p. 55). (Esse mito é dos Kamaiurá, indígenas que 
vivem atualmente no Norte de Mato Grosso). 


MITO DA ORIGEM DO MUNDO E DA HUMANIDADE - Segundo o povo 
Dessâna (Amazônia). 
No princípio o mundo não existia. As trevas cobriam tudo. Enquanto não 
havia nada, apareceu a mulher por si mesma. Isso aconteceu no meio das 
trevas. Ela apareceu sustentando-se sobre o seu banco de quartzo branco. 
Enquanto aparecia ela o cobriu com enfeites e o fez como um quarto. Ela se 
chamava Yebá Burô, a Avó do Mundo ou Avó da Terra. 
Havia coisas misteriosas para ela criar por si mesma. 
 Foi ela que pensou o futuro do mundo, sobre os futuros seres. Depois...
de ter aparecido, ela começou a pensar sobre como deveria ser o mundo.


RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS 13 
A presença das religiões de origem africana 
no Brasil se deve à entrada de muitas pessoas 
trazidas da África e submetidas à escravidão desde 
o século XVI até o século XIX. Estima-se que cerca 
de quatro milhões de africanos foram forçados a 
migrar durante esse período, provenientes de 
diferentes regiões da África e pertencentes a 
diferentes grupos étnicos.


OS DIFERENTES GRUPOS ÉTNICOS - 
Cada grupo que aqui chegou tinha suas respectivas 
crenças e costumes religiosos. Alguns deles eram 
muito mais cultos do que os colonizadores que se 
tornavam seus proprietários.  
Os sudaneses, que desembarcaram e 
permaneceram em Salvador (BA), provinham de tribos  que na África haviam 
sido convertidas ao Islamismo. Alguns deles eram profundos conhecedores do 
Alcorão, além de lê-lo corretamente, conheciam-no de memória. Esse grupo 
manteve alguns costumes da religião do Islã, tais como vestes brancas, 
turbante e chinelos.  
A influência do Islamismo na cultura africana resultou certo sincretismo, 
esses grupos islamizados adoravam ao mesmo tempo, Alá, Olorunuluá e 
veneravam Mariama, a mãe de Jesus.  
Embora não aceitassem o culto de veneração às imagens, não se 
desfaziam de seus talismãs com versos do Alcorão escritos em pequenos 
pedaços de madeira.  
Vieram muitos homens e mulheres do Senegal, Gâmbia, Angola, Zaire, 
Moçambique e da Ilha de Madagascar. 

  
A VIAGEM E AS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS NO BRASIL -  A 
viagem era em navios chamados tumbeiros (o termo tem origem na palavra 
tumba), em condições extremamente difíceis e desumanas.  
Esses homens e mulheres chegavam ao Brasil humilhados, apavorados 
e dominados, entre eles alguns eram líderes tribais, sacerdotes e sábios na 
África. Possuíam grande conhecimento da cultura religiosa de suas tribos. Mas 
com desrespeito e violência eram batizados e marcados a ferro em brasa pelos 
seus proprietários, que se denominavam cristãos.  
Então eram conduzidos às fazendas de gado, aos engenhos de açúcar 
ou à mineração, para o desumano trabalho escravo. Lá passados os primeiros 
tempos de pavor e perplexidade, devido ao modo violento e cruel com que 
foram arrancados de suas famílias e terra natal, procuravam solidarizar-se e 
apoiar-se mutuamente, visto que eram de tribos com  culturas e línguas 
diferentes, estranhas e até rivais. 


PRIMEIRA ORGANIZAÇÃO POSSÍVEL -   A primeira tentativa de 
organização possível entre eles, era a cerimônia religiosa. Então esses homens 
e mulheres, marcados pela dor e desesperança, se uniram e instauraram seus 
terreiros e cultos aos Orixás para manter viva a tradição africana, e assim 
construíram uma cultura de enfrentamento. 14 


OS DIFERENTES GRUPOS ÉTNICOS -  Entre os vários grupos, 
classificados de acordo com os seus portos de embarque na África, destacamse os sudaneses e os bantos. 
Os  sudaneses são originários da África Ocidental, das terras hoje 
nomeadas Nigéria, Benim e Togo. São, entre outros,  os iorubás ou nagôs 
(subdivididos em queto, ijexá, egbá, etc.), os jejes (ewe ou fon) e os fantiachanti. Entre os sudaneses vieram grupos islamizados como os hauçás, 
tapas, peuls, fulas e mandingas. Estes se concentraram nas regiões 
açucareiras da Bahia e Pernambuco. 
Os  bantos  são originários das regiões localizadas no atual Congo, 
Angola e Moçambique. São os angolas, caçanjes, etc.   
Supõe-se que desse grupo tenha vindo o maior número de africanos, 
pois sua influência cultural e religiosa é marcante na cultura brasileira: culinária, 
língua, música, dança etc. Espalharam-se por quase  todo o litoral e pelo 
interior, principalmente por Minas Gerais, Goiás, Rio de Janeiro e São Paulo. 
Na África, esses homens e mulheres eram capturados  pelos europeus 
ou comprados em regiões de intenso comércio escravagista. Outros eram 
vendidos como prisioneiros de nações inimigas ou porque pertenciam a 
facções rivais dentro das próprias nações.


A RESISTÊNCIA CONTRA A ESCRAVIDÃO -  Enquanto existiu 
escravidão, existiu também a resistência contra o cativeiro, apesar dos 
esforços dos senhores dominadores e das autoridades coloniais no sentido de 
detê-la.  
Uma das formas mais significativas de resistência 
contra a escravidão foram os quilombos, aldeias 
formadas por escravos fugitivos, onde podiam viver  em 
liberdade e de acordo com a sua cultura.  
Existiam diversos quilombos, o maior deles foi o de
Palmares, cujo principal líder foi Zumbi. Esse quilombo 
desenvolveu-se no interior de Alagoas, durante o século 
XVII. Chegou a ter cerca de 20.000 habitantes.  
Num período de sessenta anos, os quilombolas 
(habitantes do quilombo) resistiram ao cerco do exército comandado pelas 
autoridades coloniais até que, em 1695, o quilombo de Palmares foi destruído 
pelo exército do bandeirante Domingos Jorge Velho,  conhecido por suas 
crueldades, e por isso apelidado Diabo Velho.  
O governo colonial da época contratou Domingos Jorge Velho para 
comandar a destruição de Palmares e o Diabo Velho exigiu, em troca, um 
quinto do valor dos negros aprisionados, 500 mil réis em panos e roupas, 100 
mil em dinheiro vivo, imensos lotes de terras e o perdão pelos seus incontáveis 
crimes.  
Depois de muitos ataques fracassados, Domingos Jorge Velho 
organizou um exército de nove mil homens que bombardearam com balas de 
canhão a cerca que protegia os palmarinos. Milhares de crianças, jovens, 
adultos e idosos foram mortos cruelmente.  
Zumbi, o líder conseguiu escapar com alguns outros quilombolas e ainda 
continuou resistindo por dois anos, até que no dia 20 de novembro de 1695, ele 15 
foi traído por um homem de sua confiança, foi torturado e morto pelos homens 
liderados por Domingos Jorge Velho. 
Em 1978, o dia 20 de novembro passou a ser o Dia Nacional da 
Consciência Negra. E Zumbi foi transformado em um símbolo de luta contra o 
racismo e toda forma de escravidão e discriminação não só de negros, mas de 
todas as pessoas vítimas da exclusão social, existente no Brasil. Assim, Zumbi 
continua vivo através das lutas de muitos brasileiros e brasileiras que se 
organizam no sentido de superar os preconceitos, vencer toda forma de 
opressão e fazer valer a justiça e igualdade de direitos para todos. 


OS GRUPOS RELIGIOSOS AFRO-BRASILEIROS -  As tradições 
religiosas de matriz africana, também chamadas de religiões afro-brasileiras, 
abrangem os vários grupos religiosos nascidos das tradições culturais e 
religiosas trazidas da África, e que aqui se mesclaram entre si, constituindo-se 
como forte fator de resistência à escravidão. 
Desta forma, deram origem a diversos grupos ou denominações: 
Candomblé, presente principalmente na Bahia, mas também em outros 
Estados;  Umbanda, presente praticamente em todos os Estados brasileiros; 
Xangô, no Recife; Xambá e Catimbó, nos Estados do Nordeste; Tambor de 
Mina, no Maranhão; Omolocô, no Rio de Janeiro; Batuque, no Pará e nos 
Estados do Sul.


Fontes:


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